sexta-feira, 2 de março de 2012

Sobre a morte, o medo e a prudência

Na antevéspera do carnaval, deste ano, em meu local de trabalho, aconteceu um fato inusitado, mas que pode acontecer com qualquer um de nós. Chegou-nos a notícia inicial de que uma colaboradora havia desmaiado.
Daí vimos uma movimentação atípica no prédio. Depois vimos uma equipe de paramédicos do Serviço Móvel de Atendimento de Urgências (SAMU) entrar. Alguns minutos após, ouvi uma voz de mulher dizendo que a colaboradora havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC). Na sequência, estacionou uma ambulância a UTI Móvel e entraram três profissionais de saúde. Em seguida, mais outra ambulância do SAMU estacionou e mais três paramédicos adentraram no prédio.
Num total de 30 minutos decorridos do início do acontecido, dois dos paramédicos desceram e pegaram uma maca e levaram-na para o andar de cima. Onde estava a vítima do AVC.
Eu e meu colegas vimos a maca com a colaboradora entubada passarem por nós e entrarem na viatura da UTI Móvel. Foram embora.
No dia seguinte, toda a história fora esclarecida. A colaboradora em questão havia sido acometida por três acidentes vascular cerebral. O primeiro fê-la cair insconsciente no chão de de seu corpo, segundo relatos da outra colaboradora que estivera em reunião com ela, saíram todas as secreções e excretas possíveis. Após ser reanimada pelos paramédicos no atendimento inicial, ela sofreu outro AVC. Foi reanimada com desfribilador e levada para a UTI do Hospital Daher, em Brasília. Lá, ela sofreu o terceiro e fatal AVC. Em meu trabalho todos ficamos ressentidos com o fato e fora decretado luto institucional.

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Eu fico imaginando. Eu sou uma pessoa solitária. Quase tudo que faço em minha vida estou sozinho. Eu moro só, eu saio só, eu resolvo minhas coisas só. Minha família mora em Goiânia (cidade que fica a 217 quilômetros de Brasília/DF). Tudo bem que não ignoro o fato de trabalhar em equipe, de ter uma filha - mas que mora com a mãe - e que tenho uma namorada a qual mora em sua casa, com sua família. Mas a tônica em minha vida é a solidão.
Se esse AVC acontecesse comigo em minha casa, lugar onde raramente recebo visitas, e que a maioria de meus parcos amigos não conhecem, não sabem onde fica, eu morrerei só. Se eu não tiver forças e habilidades suficientes para chamar o SAMU, eu morrerei só.
Eu não tenho medo da morte. A morte é uma passágem desta para outra vida melhor. A vida real. Eu temo em ficar inválido porém consciente. Sabendo que até para ir ao banheiro dependerei da caridade de alguém. Tudo bem, também, que eu não tenho problemas em pedir ajuda ou socorro quando preciso. Muito menos não tenho problemas em ajudar a alguém que esteja em estado de necessidade. Mas eu temo em ficar inválido. Em estado vegetativo, talvez eu tema. Pois neste estado imagino que seja um sopro e o "morimbundo" não saiba o que se passa consigo.
Mas se eu tenho esse medo, eu tenho de aprofundá-lo e saber se ele tem uma origem conhecida nesta vida. A fim de resolvê-lo. Por que o medo trava a gente. O medo cega!
E, um dia, uma pessoa muito feliz falou que devemos eliminar de nossas vidas o medo, a culpa e a ilusão. Desses três, eu já consegui eliminar os três últimos. O medo eu estou trabalhando para vencê-lo.
Estou tentando substituir o medo pela prudência. Pois é muito melhor ser prudente do que medroso. Enquanto o medroso pára onde está, o prudente continua seguindo com cuidado. Trocar o medo pela prudência é uma forma de ser resiliente.